sábado, 16 de agosto de 2014

BIOTECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Entre as novas frentes de inovação tecnológica com grande potencial de revolucionar a produção industrial, uma das mais promissoras é a biotecnologia. Por sua quase ilimitada gama de aplicações, em processos e produtos voltados para a saúde humana e animal, meio ambiente, agropecuária, energia e indústria de alimentos, a biotecnologia vem causando profundo impacto na economia e na sociedade.


Processos biotecnológicos vêm sendo utilizados pelo homem há mais de 7 mil anos, mas nos últimos 50 anos a descoberta do DNA e de técnicas que permitem a sua manipulação trouxe um impulso extraordinário para a utilização prática da biotecnologia.
A biotecnologia moderna está utilizando conhecimentos de biologia, química, física, engenharia, informática e tecnologia da informação para desenvolver ferramentas e produtos inovadores. Tanto a biotecnologia tradicional quanto a biotecnologia moderna compartilham o mesmo fundamento: o uso de organismos vivos. A diferença fundamental é que a biotecnologia moderna consegue modificar o DNA dos organismos vivos para que eles tenham um comportamento otimizado nas funções que exercem ou tenham a capacidade de exercer funções específicas que antes não tinham.
Através das técnicas da biotecnologia moderna é possível a criação de medicamentos inovadores para combate a doenças raras, novas vacinas, redução de danos ambientais, maior produtividade de alimentos, geração de energia limpa, novas rotas de produção química e melhoria em processos industriais, por exemplo.Atualmente, existem mais de 250 produtos biotecnológicos disponíveis para uso na área da saúde, muitos utilizados em doenças antes incuráveis. Há mais de duas dezenas de vacinas que já são aplicadas extensivamente na prevenção de doenças, o que ajudou a reduzir drasticamente a mortalidade infantil. Produtos para o diagnóstico precoce do câncer ajudam a reduzir a mortalidade desta doença e o uso de medicamentos anticancerígenos desenvolvidos por processos biotecnológicos tem aumentado as taxas de sobrevida.
Mais de 13,3 milhões de agricultores em todo o mundo usam a biotecnologia agrícola para aumentar a produtividade, evitar danos causados por insetos e pragas e reduzir o impacto da agricultura sobre o meio ambiente. Estima-se que o valor atual da produção agrícola obtida a partir de sementes geneticamente modificadas exceda a 14 bilhões de dólares.
Somente nos Estados Unidos cerca de 50 biorrefinarias estão sendo construídas para testar e refinar tecnologias para a produção de biocombustíveis e produtos químicos obtidos a partir de açúcares provenientes da manipulação de biomassa, o que pode auxiliar na redução de emissões de gases de efeito estufa. Há um grande esforço na pesquisa de novas enzimas ou aperfeiçoamento de enzimas existentes para a conversão de materiais celulósicos em açúcares, o que aumentaria drasticamente a quantidade de matéria-prima fermentável obtida a partir de resíduos como palha, aparas de madeira etc.
Algumas cepas microbianas foram desenvolvidas para eficientemente converter glicerina em etanol, ácido succínico, propanodióis, ou lactatos. Atualmente, não mais do que 5% da produção de químicos no mundo depende da biotecnologia, havendo um enorme campo a ser explorado para substituir matérias não renováveis por outras oriundas de biomassa.
Plásticos biodegradáveis como o Ácido Poliacético (PLA) e os derivados do Polihidroxialcanoato (PHA) podem ter um efeito considerável na redução do uso de outros plásticos, não biodegradáveis.
O uso de enzimas industriais na indústria de papel e celulose tem propiciado uma sensível redução no consumo de energia e de cloro, com significativos ganhos econômicos. Também na indústria têxtil o uso de enzimas, muitas delas biotecnologicamente modificadas, tem trazido uma redução sensível no uso de produtos químicos, reduzindo drasticamente os efeitos negativos sobre o meio ambiente e os custos de combate à poluição.
Em função de sua vasta biodiversidade e de sua enorme capacidade de geração de biomassa, o Brasil tem um valioso potencial para o uso da biotecnologia em todas as áreas industriais acima comentadas.
O Brasil é um grande usuário de produtos biotecnológicos, especialmente nos setores farmacêutico e do agronegócio. Nos últimos quatro anos cada vez mais surgem novas drogas para o combate à moléstias graves, e vem surgindo mundialmente o crescimento de culturas geneticamente modificadas. Somente em 2012 esse mercado ampliou em 21% a área plantada com sementes transgênicas – soja, milho e algodão, basicamente.
Na pesquisa tecnológica e na produção industrial, ainda não temos posição de destaque no mundo. Entretanto, a riqueza de oportunidades nessa área já fez deslanchar um grande número de projetos envolvendo tanto o governo quanto o setor produtivo e a comunidade acadêmica. Nesta reportagem apresentamos algumas dessas iniciativas, bem como os problemas enfrentados pelas empresas que se aventuram no caminho da inovação biotecnológica.


segunda-feira, 14 de julho de 2014

O que é biotecnologia?

A biotecnologia é uma área interdisciplinar fortemente ligada à pesquisa científica e tecnológica que tem como principal objetivo desenvolver processos e produtos utilizando agentes biológicos.


De acordo com a ONU, “Biotecnologia significa, qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização específica.” (ONU, Convenção de Biodiversidade 1992, Art. 2).
A Biotecnologia moderna engloba áreas de aplicações biológicas em saúde e biomedicina, na agricultura e na produção de insumos industriais, com uma forte orientação multidisciplinar e experimental. Dentre as disciplinas que constituem as bases da Biotecnologia destacam-se aquelas das áreas biológicas (principalmente microbiologia e biologia molecular), das áreas químicas (química orgânica, química analítica e bioquímica) e das áreas de engenharia (principalmente engenharia bioquímica ou de bioprocessos).
A interdisciplinaridade da Biotecnologia moderna pode ser exemplificada por algumas de suas aplicações industriais. Na indústria farmacêutica: desenvolvimento de novas drogas, farmacoterapias, produção e melhoramento de antibióticos, produção de proteínas recombinantes para fins terapêuticos, vacinas, estabelecimento de terapias gênicas e outras estratégias para o tratamento de doenças animais e vegetais. Nos laboratórios de análises: desenvolvimento de testes diagnósticos clínicos, alimentícios, agrícolas e ambientais. Na agricultura: desenvolvimento de novas variedades de cultivos/organismos transgênicos. Na indústria alimentícia: diversas aplicações na produção e no controle de qualidade de produtos alimentícios e bebidas. No meio ambiente: tratamento de esgoto e efluentes industriais, bioremediação, biocombustíveis. Na Indústria química: produção de insumos químicos, enzimas e outras proteínas recombinantes. Na instrumentação: desenvolvimento de bioreatores, softwares e consumíveis da área biotecnológica. Na medicina: desenvolvimento de biomateriais reparativos e bioindutores, produção de órgãos e tecidos biológicos ex-vivo.
Estimativas mais conservadoras apontam a Biotecnologia como responsável por aproximadamente 1% do PIB dos países da OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development), com um potencial atual de contribuir para 5,6% do PIB destes países. Estima-se que, em 2030, a área de Biotecnologia contribua para 80% dos novos medicamentos, 35% da produção química, 50% da produção do setor primário, num total de 2,7% do PIB dos países ligados à OECD, ou seja, em torno de 1 trilhão de USD.
No Brasil, a Biotecnologia é uma das principais linhas de ação de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em áreas consideradas estratégicas pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).